Se as palavras fossem silenciosas, ainda assim as ouviríamos?

É curioso, não é?

O que impele alguém a escrever, como se falar para o vazio pudesse, um dia, provocar eco. Exasperação. Não um aplauso, certamente que não — isso seria demasiado grandioso — mas simplesmente o reconhecimento de que outra voz, outro pensamento, parou por um instante, entre um deslizar distraído e um qualquer suspiro, para atentar.

Este sítio não é um farol! É um fósforo aclarado num quarto que ainda não mergulhou, por completo, na obscuridade.

O que aqui descobrirá — se tiver a paciência e a coragem de permanecer — é o lento desenrolar de pensamentos: reflexões sociais que não posam com imparcialidade, porque, no fundo, o que é a objetividade senão uma máscara que usamos para esconder a ferida?

Encontrará também críticas literárias — não daquelas que se medem em estrelas, notas ou resumos apressados — mas daquelas que se aproximam devagar e murmuram: este livro inquietou-me, este fez-me lembrar um nome esquecido, este mentiu com elegância…

E, quando tiver coragem bastante, talvez se depare com palavras minhas: ficções, memórias, ou devaneios — oferecidos como frutos ainda verdes, não maduros, mas irremediavelmente meus.

Escrevo, não por acreditar que o mundo precise de mais palavras, mas porque preciso de lhes dar um lugar — e o fundo da mente é um triste fado. E se, por acaso, chegarem até si, uma palavra após a outra, sentarem-se ao seu lado por breves instantes, então o gesto terá valido a pena.

Seja bem-vindo.

— Adão Moreira Loureiro